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terça-feira, 27 de julho de 2010

Grão de Pó

O homem é uma criatura dinâmica
Desde o início dos tempos
Demonstrou ser plenamente capaz
De criar engenhosos inventos

Por se orgulhar de suas próprias invenções
Que o colocam no topo da escala animal
Esquece-se que ele próprio é apenas uma mera criação
De uma grandiosa força espiritual

O curioso disso tudo
É que o homem se crê um gigante
De maneira diretamente proporcional
Ao seu estado como criatura ignorante

Quanto mais cheio de si
Mais o homem se acha superior
Reflexo de apego extremo à matéria
Conduzido por lastimável pobreza interior

É prática comum do homem a auto-exaltação
Sua própria glorificação em prosa e verso
Sua megalomania foi tão grande
Que declarou a Terra como centro do Universo

Quanto mais especial um homem se acha
Mais ele carece de palavras de afeto
Busca ele elogios triviais
Que são superficiais e servem apenas para massageio do ego

De que adianta um ser diferenciado
De um reconhecido e destacado talento
Se os seus próprios olhos estão apenas voltados para si
E só é feliz quando escuta palavras de reconhecimento?

Esse gênio orgulhoso, exaltado e aclamado por todos
É um potencial torrencialmente desperdiçado
Ninguém evolui à base de egoísmo
Pois só progredimos quando ajudamos quem está ao lado

Portanto, crê em minhas palavras
Quando falo que a humildade é o padrão
Que te leva a real felicidade
Minha, sua e de todos os nossos irmãos

Humilde, considera-te um pequeno grão de pó
Que compõe toda a massa deste imenso planeta
E te preenche de uma insofismável certeza
Que a vida material é uma constante peleja
E só unidos conseguiremos enxergar na vida a real beleza
Porque ninguém consegue ser feliz só

Fernando Luiz

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Saber discordar

Muitos pensam que a concordância
É a fonte única que induz ao progresso
Esquecem de uma ferramenta importante: a discordância
Que aumenta o arsenal de opções de sucesso

A discordância bem conduzida
Com certeza só tem a somar
Contudo, alguns perversos fazem das díspares idéias
Motivos para se mutilar

A discórdia é um exemplo
De discordância mal conduzida
Um ódio criado por uma pequena chama
Que se torna grande incêndio por toda uma vida

A desavença, mais uma das chagas
Que fere, que quebra entre os humanos o elo
Muitas vezes iniciada por pueril melindre
Se converte a um mortal duelo

Proporciona, então, uma discordância saudável
Orientada pelos ideais de Jesus
Idéias divergentes aumentam o leque de alternativas viáveis
Pois, da discussão bem feita, sempre nasce a luz

Me oriento nos exemplos de Jesus
Pois seu exemplo de vida me traz fé
Mas respeito quem acredita em Shiva
Buda, Preto Velho ou Maomé

O homem que procura reliogiosidade
Busca e anseia por evolução
Diferentes pontos de vista em uma mesma humanidade
Em busca da intersecção

Mesmo aquele que não acredita
Em uma força superior
Se tem como ideal ser um homem de bem
Tem o meu respeito com louvor

E assim caminha a humanidade
Heterogênea como água e óleo misturados
Porém, um foco deve ser comum às nações que divergem
Um estável consenso de paz entre os povos congraçados

Fernando Luiz

domingo, 4 de julho de 2010

O poeta é um fingidor?

"O poeta é um fingidor"
Mas será que é mesmo?
Todo artista seria um fingidor?
O ator, por exemplo
Vivendo uma vida que não é sua
Interpretando e explanando com perfeição
Um ponto de vista que não é seu
Seria isto um fingimento?

Acredito que o fingimento
Está intimamente relacionado à falta de sentimento
O sentimento real, despido de todas as maquiagens humanas que poderiam ocultar-lhe
É puro, cristalino e totalmente verossímil
Então, presumo que quando um ator mergulha em um personagem
Expondo sua intimidade e interpretando-o com exatidão
De uma maneira contextualizada e dentro de um padrão
Podemos, dentro de um certo critério, visualizar uma expressão da verdade
Não há nada mais verdadeiro do que um ator competente em cena
Então o fingimento não está associado ao artista que vive da expressão do sentimento
Não está associado ao tipo de labor
Mas está ligado à maneira como esse trabalho é encarado e executado

O poeta é mais um artista
O poeta pode ser comparado a um profeta
Não no tocante a previsão
Mas referindo-se a um sacerdócio
O poeta é o sacerdote das palavras
E como a boca fala daquilo que o coração está cheio
O poeta é o sacerdote da alma
Das coisas sagradas
Da espiritualidade

A sociedade é estratificada
Com intensa divisão de trabalho
Tal qual um organismo
Onde coração, fígado, pulmão
Órgãos diferentes, funções diferentes
Mas o objetivo é o mesmo
O bem-estar do organismo
Médicos, engenheiros, militares, professores e poetas
Funções diferentes
Mas um mesmo objetivo: o bem-estar da sociedade

"Mas ser poeta não é profissão" diriam alguns
"O poeta é um fingidor" diriam outros
Afirmando que, por serem "fingidos", os poetas se contradizem
Falseando os sentimentos
Preocupando-se apenas com o formato e não com o conteúdo
Tal qual os parnasianos
E muitos nem recebem salário
E são boêmios
Dentre outras diversas, e as vezes pejorativas, qualificações

Para não sermos acusados de superficialidade
Lembremos que a profissão
Antes de envolver o salário, que é uma consequência
Envolve o trabalho, que é uma causa
E o trabalho feito de coração e com perfeição
É muito mais significativo que aquele feito por interesse
Pois o primeiro é doação
E o segundo é obrigação

Mas como um poeta contribuiria para o bem-estar social?
Seria apenas pelo entretenimento?
Como é pueril o homem que analisa tudo superficialmente
Muita pobreza de espírito, se essa pergunta é feita com deboche
E muito desconhecimento de causa
O médico é o profissional responsável pelo zêlo de nossa saúde
O engenheiro se responsabiliza pela criação e manutenção de estruturas
O militar é o fiscalizador/cumpridor da ordem social
O professor é o construtor e o semeador do conhecimento
E o poeta?
Qual seria o papel deste tão humilde profissional
Que muitas vezes nem trabalha por dinheiro
Mas apenas pela satisfação de tocar o sentimento
E tem papel mais prazeroso que esse?
Tocar verdadeiramente o coração das pessoas
Mexer com suas essências, despertá-las para a realidade dos fatos
Meu amigo, o poeta é humilde, porém, gigante!!!

Além disso, o homem é confuso por natureza
Pois ele é naturalmente imperfeito
Em ações, palavras e impressões do mundo exterior
E por isso, os homens constantemente se interpretam mal
Se relacionam mal
E convivem mal
Porque não sabem se comunicar
Porque não sabem ou não querem traduzir verdadeiramente
Seus pensamentos em ações
Suas idéias em palavras
Não sabem, não querem ou não têm competência para isso
E quem teria essa capacidade
De externar todo um sentimento contido para uma folha de papel?
Não seria outro
Senão aquele que detém o sacerdócio da palavra
Da alma
Dos verdadeiros sentimentos
Esse humilde gigante
O poeta

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente."
Diz a autopsicografia de Fernando Pessoa
Que atesta a total competência do poeta em retratar os sentimentos
Inclusive os sentimentos dele próprio
Não seja superficial
Lembra da primeira frase desse texto?
Muitas pessoas só lembram dela
E esquecem do restante da estrofe
E principalmente, esquecem o significado
A poesia é a magia na forma de palavras
A poesia não é só a primeira frase
São várias estrofes
A poesia não é só o parnasianismo
É concretismo, é o modernismo, é o simbolismo
É até mesmo o dadaísmo
ELA É O SINCRETISMO
Por que como seres humanos, nós somos sincréticos
E ninguem mais habilidoso para lidar com o sincretismo do ser humano
Do que o poeta, esse multifacetado profissional
Mestre das coisas do espírito

Fernando Luiz